quarta-feira, 11 de abril de 2007

CROQUI OF ME

E eu que julgava que a vida, com seus pincéis trôpegos, já havia me matizado com todos os tons de tinta: o lápis-lázuli, o fluorescente, o âmbar e o fosco. Eu, de tão riscado, de tão borrado, julgava que a vida já havia me transformado nesta espécie de croqui improvisado, mal acabado, de mal gosto. E que jamais haveria de experimentar de novo a explosão da experiência original que só o branco da tela oferece aos olhos ávidos do artista. Eu, que julgava ter-me esquecido deste gosto: da pureza do branco. Da virgindade inocente. Do silêncio primal, que sempre nos coloca de cara-à-cara com o ponto de partida.

Não imaginava renascer quando seus olhos deitaram grande quantidade de água em minha pintura já enrijecida. Não imaginava essa reviravolta, esse apocalipse, que soam aos meus borrões antigos como a verdadeira revolução estética que me prepara para outra vernisage, em galeria ampla e nova.

Não imaginava figurar em seu coração.

E que ainda perfaria tal rota.

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